Foi ontem que os alunos do 5º e do 6º Anos e os alunos da Educação Especial (C.E.I.) conheceram pessoalmente o poeta e escritor João Pedro Mésseder (pseudónimo de José António Gomes), que eles aguardavam com expetativa, desde as últimas semanas.
Foi como quem reencontra um amigo que os nossos alunos receberam João Pedro Mésseder. Após uma breve apresentação pessoal, o autor dispôs-se a responder às perguntas dos leitores. Sobretudo os alunos do 6º Ano interpelaram o autor com curiosidades como a razão de ser do seu pseudónimo, os seus locais de inspiração poética, ou os autores que, desde a infância, mais o têm marcado...
Pegando no livro Poesia de Luís de Camões para todos, obra de que José António Gomes é coordenador, o autor explicou como é importante para si distinguir o seu nome próprio do seu pseudónimo; a personalidade e o trabalho de cada uma destas entidades literárias que ele traz consigo e que têm, cada qual, uma existência.
Camões tem sido, de resto, uma das grandes fontes de inspiração do poeta, que recordou ainda outros grandes mestres da poesia portuguesa e mundial, como Eugénio de Andrade e Cecília Meireles, que o despertaram para uma poesia mais íntima das crianças. Desde muito cedo, intuiu que a poesia é um meio privilegiado para chegar ao coração dos outros e para lhes despertar a imaginação.
No seguimento dos poemas tradicionais de Camões, que o nosso convidado leu em voz alta, a Catarina, do 5º A, leu para todos o poema "Materiais" (da obra Versos com reversos), que aqui recordamos:
Materiais
Um coração
faz-se de amoras.
Uma mão
faz-se de galhos.
Uma flor
faz-se de zumbidos.
Uma árvore
faz-se de ninhos.
Um cavalo
faz-se de vento.
Uma nuvem
faz-se de linho.
Um rio
faz-se de silêncio.
Uma casa
faz-se por dentro.
João Pedro Mésseder, in Versos com reversos
Depois desta leitura, vários alunos do 5º Ano homenagearam, sucessivamente, o autor com os versos que eles próprios tinham escrito à semelhança deste poema. Um exemplo:
Seguiu-se o poema "Ditos", da mesma obra, lido pelo Lucas, do 5º B:
Materiais
Um coração
faz-se de amoras.
Uma mão
faz-se de galhos.
Uma flor
faz-se de zumbidos.
Uma árvore
faz-se de ninhos.
Um cavalo
faz-se de vento.
Uma nuvem
faz-se de linho.
Um rio
faz-se de silêncio.
Uma casa
faz-se por dentro.
Depois desta leitura, vários alunos do 5º Ano homenagearam, sucessivamente, o autor com os versos que eles próprios tinham escrito à semelhança deste poema. Um exemplo:
Um livro
faz-se de palavras.
Uma janela
faz-se de aventura.
Uma estrela
faz-se de brilhos.
Uma bola
faz-se de liberdade.
Daniel Costa – 5º B
Seguiu-se o poema "Ditos", da mesma obra, lido pelo Lucas, do 5º B:
Ditos
Ao branco
diz o negro:
“Dá-me um
grão da tua luz.”
Ao negro
diz o branco:
“Ah, o
brilho dos teus olhos!”
Ao branco
diz o azul:
“Dá-me um
pouco da tua água.”
Ao azul
diz o branco:
“Dá-me uma
nesga de céu.”
Ao
encarnado diz o negro:
“Dá-me uma
gota do teu sangue.”
Ao negro
diz o encarnado:
“A seda
dos teus cabelos!...”
Ao azul
diz o amarelo:
“Juntemos
os nossos teres,
de verde
cubramos o chão
das coisas
e dos seres.”
João Pedro Mésseder, in Versos com reversos
E, para surpresa do autor, surgiram, de entre o público, outros versos criados pelos alunos... Exemplos:
Ao laranja diz o cinzento:
“Dá-me um pouco da tua doçura!”
Ao verde diz o laranja:
“Dá-me um pouco da tua esperança!”
Andreia – 5º A
Ao amarelo diz o verde:
“Dá-me um pouco do teu sol!”
Ao laranja diz o cinzento:
“Dá-me o sabor dos teus frutos!”
Maria Inês – 5º A
Prova do prazer que João Pedro Mésseder retira das palavras é uma das mais recentes obras do autor (Tudo é sempre outra coisa, de 2014), que ele fez questão de salientar e da qual nos leu alguns trechos. Foi especial o momento em que o poeta convidou o público a dizer consigo as palavras que envolvem a palavra "Pai" e a palavra "Mãe", demonstrando que também na prosa se pode buscar a poesia:
"Alguma coisa de casa, alguma coisa de árvore, alguma coisa de rosa, alguma coisa de terra, alguma coisa de mar, alguma coisa de lua, alguma coisa de música. É a mãe." (João Pedro Mésseder, Tudo é sempre outra coisa, p. 34).
"Alguma coisa de casa, alguma coisa de árvore, alguma coisa de rosa, alguma coisa de terra, alguma coisa de mar, alguma coisa de lua, alguma coisa de música. É a mãe." (João Pedro Mésseder, Tudo é sempre outra coisa, p. 34).
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